A. F. Monquelat
V. Marcolla
Atualmente sabe-se que Pelotas
não foi a pioneira no estabelecimento da indústria saladeiril no
Continente de São Pedro; tal primazia, por ora, cabe ao atual
município de Arroio Grande.
Demonstrou-se sobejamente que a
João Cardoso da Silva, e não a José Pinto Martins, se deve tal
iniciativa. Ainda que não tenha sido a pioneira, é a Pelotas que o
Rio Grande do Sul deve o desenvolvimento desta indústria. No
entanto, afastada a ideia que até então havia, a de ter sido José
Pinto Martins o fundador da indústria saladeiril no Continente de
São Pedro, nos resta saber se, pelo menos, em Pelotas foi ele o
pioneiro.
Em trabalho
publicado no Diário
da Manhã de 22 de
janeiro do corrente ano, a página 15, disse a professora Zênia de
León no primeiro parágrafo de seu artigo: “A vida econômica de
Pelotas iniciou há bem mais de duzentos anos passados. Segundo
recentes, bem vindas e benéficas pesquisas, que o resgate de
verdades é infinito, antes de José Pinto Martins aqui ter chegado
em 1777, já se trabalhava a carne salgada na região. Coube a ele,
entretanto, a primazia no sítio charqueadista pelotense e a
disseminação das charqueadas na região hidrográfica do
rincão-arroios e canal de São Gonçalo”.
A autora de “200
Anos de Pelotas – A face de Pelotas que muitos viram”
ao se referir as “recentes, bem vindas e benéficas pesquisas”
que, embora não explicitadas pela articulista, em face dos aspectos
tratados no parágrafo aqui reproduzido, são as nossas, realizadas e
divulgadas, há anos, nos domingos, pelas páginas do DM,
tornou a primeira representante da historiografia local a registrar,
pela imprensa, o diálogo com uma nova concepção de história de
Pelotas.
Relativamente à afirmação de
que “A vida econômica de Pelotas [ter iniciado] há bem mais de
duzentos anos”, vale dizer que a cidade, no período compreendido
entre 1781 até o final do século XVIII teve sua incipiente
economia, com mão de obra escrava, baseada no agro-pastoreio
praticado nas sesmarias e datas concedidas aos “Cazaes”
assentados nas terras do capitão Inácio Antônio da Silveira Cazado
e do capitão-mor Manoel Bento da Rocha, pelo então governador da
Província, Sebastião Xavier da Veiga Cabral da Câmara, nome este
que deve ser lembrado como um dos vultos mais importantes para o
surgimento e desenvolvimento de Pelotas.
Quanto ao português, natural de
Meixomil, José Pinto Martins, já demonstramos documentalmente que
aqui não estava em 1780, como até agora quis a historiografia, não
só pelotense, e menos ainda esteve no ano de 1777, como apontou a
redatora do artigo mencionado.
José Pinto Martins
na data indicada pela autora, havia chegado a pouco no Brasil e
estava transitando entre as cidades de Aracati, Mossoró, Recife e,
para o Continente de São Pedro, é provável que tenha vindo nos
anos 90 do século XVIII, como já o dissemos em artigo publicado
sobre título de “José
Pinto Martins e seus irmãos (3ª e última parte)”
– DM
de 08 de janeiro de 2012, p. 13.
Considerando a afirmação feita
pela professora Zênia de León, de que “Coube a ele [José Pinto
Martins], entretanto, a primazia no sítio charqueadista pelotense a
disseminação das charqueadas na região hidrográfica do
rincão-arroios e canal São Gonçalo” temos a dizer o seguinte: se
tal tivesse acontecido, que importância teriam as “recentes, bem
vindas e benéficas pesquisas”? Ou melhor dito: da forma que a
articulista expressou, fica entendido que José Pinto Martins é o
pioneiro da indústria saladeiril na região, agravado ainda pelo
fato de sua primazia ter ocorrido no ano de 1777, quando é quase
unanimidade historiográfica o ano de 1780.
Mais incisivamente temos a
acrescentar que a José Pinto Martins o Rio Grande do Sul nada deve
do que incluí-lo na lista de nomes de centenas de outros
charqueadores; a José Pinto Martins Pelotas e sua história nada
mais têm a dizer que foi um dentre dezenas de outros charqueadores
que aqui se estabeleceram. Além disso, diga-se que José Pinto
Martins não esteve ou estava em Pelotas nos anos de 1777-1780.
Se não foi José Pinto Martins
o primeiro a charquear, de forma não doméstica, nas terras que
deram origem a cidade de Pelotas, a pergunta é: quem foi o pioneiro
da indústria saladeiril pelotense?
Embora nossas pesquisas sobre
tal assunto estejam em andamento, podemos hoje, grosso modo, dizer
que o pioneiro da indústria saladeiril em Pelotas foi o proprietário
da sesmaria do Monte Bonito, capitão Inácio Antônio da Silveira
Cazado que, em tais terras e próximo a margem do arroio Santa
Barbara estabeleceu uma charqueada com finalidade de comércio dos
produtos ali fabricados, cuja indústria teve a denominação de
“Charqueada do Santa Bárbara”, próxima da qual estabeleceu
também uma Olaria.
Quando concluirmos a pesquisa
sobre o capitão Inácio Antônio da Silveira Cazado e seus
estabelecimentos, à margem do Arroio Santa Bárbara, voltaremos a
tratar deste assunto.
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* Artigo publicado no Jornal Diário da Manhã, no dia 12 de fevereiro de 2012.